Ontem eu vi a água escorrer,
Ela levava consigo toda amargura de quem perde tudo do pouco que tem,
Ao fazer seu percurso, ela contornava histórias de pessoas que sofrem,
Pessoas que temem ao ver um rastro claro num cinzento céu
Ou uma gota daquela que é tão importante para todos,
Mas que às vezes castiga os que a maltratam, e infelizmente atinge a inocentes.
A água que eu vi escorrer ontem,
Não foi na janela do quarto, nem do riacho que quase se transformou o estacionamento do condomínio em que moro, no temporal que caiu à noite. Não.
Foi no rosto de uma criança inocente, que perdera parentes que foram assassinados pela força das correntezas no Estado de São Paulo.
Foi na face desesperada de uma senhora que lamentava aos prantos não ter pra onde ir depois que a chuva destruiu sua casa.
Foi no rosto enrugado de um idoso que teve a parede do quarto derrubada pela chuva, que, segundo ele, todo ano acontece.
Foi na testa daquele homem que colocava em cima do caminhão de lixo, o que sobrou dos móveis que lutara anos para conseguir e que foram dissolvidos pela enchente.
Essas águas não voltam, não movem moinhos, somente nos deixa a certeza de que tudo o que temos aqui é fugaz.
Esta certeza não nos diz pra não juntarmos mais nada nas nossas vidas,
Mas sim que há coisas mais importantes do que aquelas que passaram,
As que ainda estão por vir,
O recomeço.


Nenhum comentário:
Postar um comentário